Pgina Oriente

                      Protestantismo  

    Introduo -

                A grande crise religiosa do sculo XVI, conhecida por protestantismo,  foi um dos movimentos que mais tipicamente definiu a insubordinao dentro de setores da Igreja. Inegvel  que existia  a ignorncia e a corrupo,  incrustada em diversos setores e membros do clero. Entretanto, na poca de So Francisco de Assis no foi diferente,  mas sua atitude de fidelidade ao Papa e Igreja,  fizeram que seu nome fosse respeitado e venerado no mundo inteiro. Sua personalidade empolga, ainda hoje,  todas as camadas da sociedade.  Ele    o consolo dos fiis, a alegria da Itlia e o orgulho da Igreja.

              J a insurreio movida por Martinho Lutero, deixa clara a sua inteno orgulhosa em afrontar a hierarquia da Igreja. A propagao de suas idias acarretaram uma grande ciso religiosa e conseqentemente numa verdadeira avalanche poltica na Europa. A contestao dos dogmas e o ataque organizao da Igreja, repousavam  no desprestgio do papado diante da crescente influncia dos soberanos europeus  que, por questes meramente polticas, influam nas decises regionais do clero, tendo  a corrupo moral tomado conta de diversos setores do clero.   Alm disto,  tornou-se difcil a interferncia direta do Papa em tais questes,  principalmente,  por causa das distncias. Como nos fins da Idade Mdia o esprito de independncia desenvolveu-se em vrios pases, onde o nacionalismo crescente se ressentia de qualquer influncia  exterior, notadamente do Papa,  os prncipes e monarcas interessados em aumentar seu poder, tinham a inteno de colocar a Igreja numa posio dependente. Vejamos:  

 HISTRIA 

             Conhecida com o nome de Reforma Protestante, teve suas razes em movimentos religiosos  da Idade Mdia, dirigidos por John Wyclif e Joo Huss. Esses movimentos haviam sido abafados, mas, na Inglaterra e na Bomia, persistiam em estado latente as tendncias que, combinadas posteriormente com causas muito complexas, fizeram eclodir a insurreio luterana na Alemanha. 

            Wyclif (1324-1384) foi professor de teologia da Universidade de Oxford, que se insurgira contra os tributos cobrados pela Igreja e declarara ser a Bblia a nica regra de f, sendo livre a sua interpretao. Seus seguidores deram ao movimento um carter de luta social contra a nobreza, e chefiados por John Ball, revoltaram-se em 1383, tendo conseguido  entrar em Londres, onde, enganados por Ricardo II, foram eliminados completamente, sendo seus chefes decapitados. 

            Joo Huss, professor professor da Universidade de Praga, influenciado pelas idias de Wyclif, tornou-se o chefe de um movimento religioso nacionalista de carter antigermnico e  antipapista. Havendo comparecido ao Conclio de Constana para justificar-se sob o ponto de vista doutrinrio, foi considerado hertico. Alm disto, acabou sendo executado, no obstante possuir um salvo-conduto dado pelo imperador germnico.  A execuo de Joo Huss, desencadeou sangrenta guerra religiosa na Bomia.   

             Nos primeiros anos do sculo X a Igreja atravessava um perodo difcil. A venda de cargos eclesisticos e de indulgncias,   a diminuio do prestgio do papado pela influncia dos soberanos  que efetivamente influam diretamente em decises regionalizadas da Igreja, criaram um ambiente favorvel  para a difuso do movimento separatista protestante.  Paralelamente, o forte esprito de independncia j nos fins da Idade Mdia, desenvolveu-se em vrios pases, cujo nacionalismo  crescente punha de lado qualquer interferncia  do Papa, considerado como estrangeiro. Os prncipes e monarcas habilmente exploraram esse nacionalismo, interessados em aumentar seu poder, intencionando colocar a Igreja numa situao de dependncia.    Deve-se considerar tambm o patrimnio da Igreja, que despertou a cobia de reis e nobres, desejosos de anexarem s suas terras  as propriedades dos bispados e mosteiros, adquiridos, durante sculos, pelas doaes dos fiis e que constituam um tero do territrio alemo e um quinto da Frana. A iseno de impostos sobre estes domnios por certo aguava o interesse das classes dominantes.   

              J os motivos  religiosos que completaram o conjunto de causas da reforma haviam sido provocados, de uma certa forma, pela  influncia do esprito crtico do humanismo. A contestao de dogmas e a crtica radical hierarquia e estrutura da Igreja,  basearam-se  numa reao contra  o pensamento de So Toms de Aquino, sobretudo quanto ao livre arbtrio e  os Sacramentos.   O pensamento dos reformadores orientava-se, de certa maneira, de acordo com uma teoria na qual o livre  arbtrio  era sensivelmente prejudicado pela concepo do homem como um ser totalmente depravado, cuja salvao dependia da vontade divina. Outro fator importante era o grande nmero de padres que,  sem nenhuma vocao religiosa, prejudicavam de maneira  contundente o primado espiritual e a organizao da Igreja.  Nessas circunstncias e nessa poca, nasceu Martinho Lutero.

 Lutero 

              Filho de famlia humilde, Martinho Lutero nasceu em Eilesben em 1483. A morte de dois companheiros o impressionou de tal maneira que, repentinamente, abandonou o curso de direito e ingressou no Convento Agostiniano de Erfurt.  Logo depois foi nomeado professor da Universidade de Wittenberg. Uma viagem a Roma parece ter exercido grande influncia em suas idias j distanciadas da ortodoxia catlica.  Seu rompimento com a Igreja foi provocado diretamente pelo fato de Tetzel, um monge dominicano haver, em nome do Papa,  percorrido algumas regies alems reunindo fundos  para a reparao  da Igreja de So Pedro. A Lutero tal fato pareceu apenas uma venda de indulgncias.  A princpio  as discusses entre ambos parecia apenas uma contenda entre frades, mas o rumo de franca rebelio dado por Lutero ao pregar suas teses na porta da igreja local, levou o Papa Leo X a interferir junto ordem dos agostinianos para que o frade rebelde se retratasse, o que no se deu. 

             Em 1520, as idias de Lutero foram condenadas numa bula promulgada por Leo X, e lhe foi dado o prazo de 60 (sessenta) dias para retratar-se, sob pena de heresia. Lutero queimou publicamente a bula papal. Carlos V, soberano  do Sacro Imprio Romano Germnico, a quem preocupava o movimento iniciado pelo rebelde, intimou-o a comparecer Dieta de Worms. Nela, Lutero reafirmou suas idias e, garantido por um salvo-conduto, refugiou-se num castelo de seu amigo Frederico III, da Saxnia. 

             Lutero havia desencadeado uma onda de descontentamento  e de revolta social.  Em 1522 rebentava uma tremenda rebelio da pequena nobreza, abafada pelos exrcitos da alta nobreza com o apoio da Igreja. Logo em seguida, em 1524, um levante de classes inferiores estourou no sul da Alemanha, com reivindicaes de liberdade e igualdade social, que acabou  dominada pelos nobres,  prestigiados pelo prprio Lutero que os apoiou na represso da rebelio campesina, na qual era ntida a influncia dos anabistas.  Estes constituam o grupo protestante mais radical de seu tempo. Recomendavam aos cristos a diviso dos bens e recusavam a prestao de servio militar.   Nessa altura dos acontecimentos, os  protestantes j constituam uma fora poltico-religiosa  na Alemanha e, parte da nobreza, se havia apoderado dos bens do clero catlico.

             Reuniu-se a Dieta de Spira (1526-1529),  para resolver as grandes divergncias existentes entre catlicos e reformistas. Pediram os catlicos que no fosse abolida a missa nos lugares onde ainda era celebrada e que fosse proibida a pregao doutrinria dos reformistas, nos lugares onde ainda no haviam dominado. Os luteranos protestaram contra estes pedidos, donde lhes veio o nome de "protestantes", pelo qual ainda hoje so conhecidos. 

 Consequncias  

              Tal movimento expandiu-se pela Europa. Na Sucia e Dinamarca o protestantismo tornou-se religio oficial. Na Sucia, sua implantao foi poltica, pois o rei Gustavo Wasa, desejando anular a autoridade dos bispos, recuperou os domnios que haviam sido legados Igreja Catlica, fazendo profisso de f luterana e procurando-a introduzir em todo o reino.  Na Dinamarca, Frederido I declarou-se abertamente protestante e, mais tarde, seu filho Cristiano III aboliu a hierarquia catlica e confiscou-lhe os bens. Na Sua a reforma foi introduzida por Ulrich Zwinglio que, persuasivo, atraiu to grande nmero de adeptos a ponto de, em 1529,  provocar uma guerra civil-religiosa, na qual morreu.   Enquanto a Sua se debatia entre os dois grandes partidos  polticos, chega a Genebra Joo Calvino, que sofrera profunda influncia dos discpulos de Lutero. Definiu elementos bsicos de sua teologia em sua Instituies da Religio Crist. Alastrou-se o calvinismo pela Holanda e Frana, tendo tambm se infiltrado nos reformistas da Inglaterra (puritanos) e da Irlanda (presbiterianos). 

              Na Inglaterra, a revoluo protestante teve como causa, entre outras, o casamento de Henrique VIII com Ana Bolena.  O Soberano ingls era casado com Catarina de Arago, mas apaixonara-se por Ana Bolena e pedira ao Papa Clemente VII a anulao de seu casamento, usando como pretexto a suposta existncia de parentesco com a prpria esposa. No tendo conseguido o intento, Henrique VIII convocou uma assemblia do clero  que o reconheceu como chefe da igreja anglicana, conseguindo, junto ao Parlamento abolio dos pagamentos de rendas ao Papa e proclamaram  a igreja anglicana como rgo oficial sob autoridade exclusiva do rei. 

 Reao Catlica 

              Antes mesmo do movimento reformista, j havia conhecido a Igreja um movimento de revivescncia religiosa, iniciado pelo Cardeal Ximenes, na Espanha, onde se fundaram escolas, coibiram-se os abusos nos mosteiros e foram os padres obrigados a aceitar sua responsabilidade de dirigentes espirituais.  Na Itlia, j um grupo de padres  fervorosos  vinha trabalhando  por uma recuperao do antigo esprito cristo, atravs de obras de caridade e servio social. Destacaram-se os teatinos, com votos de pobreza, castidade e obedincia, e os capuchinhos, que pretendiam seguir a mesma trilha de so Francisco.  Alm disso, comunidades religiosas organizaram-se, novas ordens foram fundadas, dentre as quais  a Companhia de Jesus, ou Ordem dos Jesutas, que a que melhor caracteriza o esprito de reao catlica. Seu fundador foi Santo Incio de Loyola. Como antigo oficial espanhol, ficou gravemente ferido no cerco de Pamplona. Durante sua prolongada convalescncia, converteu-se e transformou-se num batalhador da causa catlica, num dos momentos mais crticos da Igreja,  ou seja, durante a expanso luterana.  Deu sua companhia uma organizao pautada em moldes militares. Com as armas do ensino, da prdica e da catequese, os jesutas  infiltraram-se nas hostes luteranas, cristianizaram a amrica espanhola, penetraram  na China, no Japo, na ndia e evangelizaram o Brasil, onde destaca-se o nosso grande Padre Jos de Anchieta. 

            A reao catlica, comumente denominada "contra-reforma", foi orientada por seis grandes Papas:  Paulo III, Jlio III, Paulo IV, Pio V, Gregrio XIII e Sisto V.  

 Para saber mais:  

- Em 1542 a Inquisio foi restabelecida como rgo oficial da Igreja, dirigido de Roma pelo Santo Ofcio, sendo que seu objetivo era deter o avano protestante em Portugal, Espanha e Itlia.  Para saber mais consulte a histria da Inquisio (desde a sua criao em 1231 pela bula Excommunicamus - do Papa Gregrio IX, at seu restabelecimento em 1542).

- Consulte tambm  o Conclio de Trento, que discutiu o corpo das doutrinas catlicas baseadas nas crticas dos protestantes. 

- Para entendermos  como reis e imperadores decidiam diretamente  nos setores regionalizados dos membros do clero, inclusive, intervindo na eleio de dignitrios da Igreja, fato que foi duramente  combatido pelo grande Papa Gregrio VII muito antes da reforma protestante, ou seja, no sculo XI,  consulte  a questo das Investiduras

- Recentemente, em 1982,  um grupo de telogos luteranos firmaram um documento, denominado "Manifesto de Dresden",   onde os protestantes se questionam sobre sua recusa e indiferena Maria Santssima,  j que o prprio Martinho Lutero foi devoto de Maria at morte, dentre outras questes, principalmente  a perplexidade  diante das  recentes aparies de Nossa Senhora e  da  infinidade de milagres cientificamente comprovados. Vale a pena ler. 

Ir para a Pgina Oriente

Refernciasensinamentos do livro  Histria Geral - A. Souto Maior, 14a. ed, 1971; dados obtidos atravs do Almanaque Abril, 1985.