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Livro Oriente       <<  ARTIGO XII   >>       Carlos Mariano

        

 

 

Quando o homem acabar, ento estar no comeo -

   Cum consummaverit homo tunc incipiet (Eclo XVIII, 6)

 

 

 

 

 

 

 

                                                Conta-se que existiu um orador sacro, cuja oratria, quer pela profundidade, quer pela fora de expresso, quer pela graa, conseguia manter atento s suas palavras, o mais distrado dos homens. Sua fama corria mundo. Vai da, que os antigos sbios gregos, romanos, persas, trocaram correspondncia entre si, noticiando ao orador que o apreciariam escutar. Dia e hora marcados, reuniram-se os sbios em volta de um estrado, antecipadamente construdo para destaque do pregador. Este, principiou dizendo: Quem tem um desejo, tem uma mortificao; quem tem dois  desejos, tem duas mortificaes;  quem tem trs desejos, tem trs mortificaes; quem tem quatro...; quem tem mil desejos, tem mil mortificaes. Desceu do palanque e da forma que entrou, retirou-se o afamado orador, que do nascer at sol posto, soube manter em suspenso, to douto e seleto auditrio. Um dos sbios, o mais velho dentre eles, mais credenciado pela idade, do que pela sabedoria consumada, arrematou: A repetio a cincia do aprendizado!. Isto contado, a ttulo justificativo, prossigo a srie dos meus modestos artigos com frases, ditos e conceitos tambm, por vezes, repetidos exausto.

 

                                                Quando guri, at parece que foi ontem!, poca em que nenhuma espcie de poluio era problema, o rio Itaja-Au que corta esta cidade era to cristalino, quanto a mais cristalina das fontes, s no era diretamente potvel pela salinidade do mar. Cardumes de tainhas adentravam o rio, na fuga dos botos que os cercavam. Naqueles tempos ditosos, como disse o poeta, o recibo da luz eltrica era de valor nico, isto porque, cada casa podia ter tantas tomadas, conhecidas por bicos de luz, quantas o seu proprietrio determinasse, contudo, no poderia acender mais de dois bicos, simultaneamente. Se, porventura, algum desavisado o fizesse, seria alertado por um ta-t-t-t emitido por um disjuntor, denominado macaco, decerto pelos tremeliques que dava quando acionado e a casa ficava s escuras. O lado cmico, naqueles dias nada engraado, consistia que entre a emisso do primeiro t daquele aparelho at o ltimo t, contava-se uns seis ou sete segundos, antes de interromper a energia. Nesse nterim, fazia-se ouvir de todos os cantos da residncia vozes desesperadoras de: Apaga a luz, apaga a luz, apaga a luz!, pois, se o imprudente ou qualquer outro reparasse o descuido, estaria evitando a taxa de religao e a descompostura do funcionrio encarregado do conserto.  Assim, porque o macaco no havia queimado, generalizava-se um suspiro de satisfao e tudo voltava tranqilidade, na pacata Itaja de outrora. Esse Itaja longnquo, afora o acima narrado, descrito pelo saudoso e ilustrado Sr. Juventino Linhares no livro de sua autoria O QUE A MEMRIA GUARDOU, que ao preo de vinte reais, pode ser adquirido no Palcio Marcos Konder, sito rua Herclio Luz e que nenhum itajaiense deveria deixar de obter.

 

                                                Figurativamente, o Itaja antigo era uma gota no Oceano. Hoje, com a telecomunicao e a conseqente globalizao, o oceano foi introduzido nesta gota. O Vaticano, a Conchinchina e Tquio distam de ns, quanto o telefone, o fax e o computador com a internet, que esto mo. S no se d conta disto, uma estranha Conferncia sem fim, que em virtude desse alheamento, mais dia, menos dia, h de se ver diante do seguinte dilema: ou implode racional, ou explode irracionalmente. Santa Joana dArc, quando apelou para o Papa, o bispo francs Pedro Cauchon, simptico Coroa inglesa, respondeu-lhe: O Papa est muito longe. Presentemente, guardado o trmite cerimonial, o Papa est do outro lado da linha; s discar ou clicar. Deduz-se que, o progresso dinmico, furtar-se a ele estupidez; progressista o que ama o progresso e ser inovador, autodenominando-se progressista, vituprio. Em resultado, o religioso inovador um rebelde, um desajustado, jamais progressista. O inovador est para o progressista, assim como o comunista est para o intelectual. O primeiro, sai por a com a Bblia sobraada, sem ter entendido direito o livre arbtrio concedido por Nosso Senhor a Ado; o segundo, sobraando O Capital de Karl Marx, sem ter compreendido o que venha a ser mais-valia. No entretanto, basta-lhe ser inovador para considerar-se progressista e comunista para denominar-se intelectual. Isto, antes da queda do muro de Berlim, evidentemente. Posto que, afora os contumazes, os demais, com toda certeza, evoluram de opinio.

 

                                                Seria um trabalho hercleo, enumerar o avano tecnolgico que se  assistiu neste sculo e que de domnio pblico, pois a mdia, jornais, revistas, rdio e televiso, neste particular, cumpriu o seu papel. Bastando lembrar, que do computador de quinze metros de altura, chegou-se ao porttil e que do 14-Bis de Santos Dumont aos foguetes interplanetrios. Neste sculo, o fuso-horrio foi vencido: Toma-se um supersnico no Rio de Janeiro hoje e chega-se em Tquio ontem. Este sculo, foi um sculo maravilhoso, embasbacante. Como todos sabemos, foi colocado em rbita o supertelescpio Hubble, que vasculha o Universo, dando aos cientistas uma viso em milhes de anos-luz. Isto progresso e quem ama o progresso progressista, que nada tem a ver com inovador, nem com reformador. Em consequncia, confundir progressista com reformador, mero disparate. Os inovadores no so de hoje, tampouco de ontem, eles j azucrinavam So Paulo, nos primrdios do cristianismo.Os reformadores, inovadores e rebeldes, adoram a denominao progressista. O Padre Diogo Feij, foi o primeiro progressista oficial do Brasil. Ele era progressista porque atacava o celibato clerical, almejado por Gregrio VII, que atingiu o seu clmax em 1074 pela excomunho dos padres casados, tendo em vista a corrupo moral. Foi um grande estadista e prestou relevantes servios nossa ptria, o padre Feij. Porm, a sua grandeza maior, foi ter-se retratado do seu progressismo arcaico. Donde se infere, que progressismo e arcaismo, andam par e passo.

 

                                                Com Jesus progressismo no funciona, pois o Divino Mestre apresentou-se como: EU SOU, abarcando o ontem, o hoje e o amanh, da nossa humanidade. Ns que nos submetemos aos rigores do modismo, coisa que tambm no funciona com Jesus: Passar o cu e a terra, porm, as minhas palavras no passaro, ou seja, no cairo da moda, porque eternas. Com referncia s catastrficas pregaes do final dos tempos que ocorrem a cada passagem de sculo e mais particularmente de milnio, Jesus nos tranqiliza, reservando ao Pai ano, ms, dia, hora, minuto e segundo. Porm, mantendo-nos de sobreaviso, pela importncia real de nossas almas, deu-nos algumas dicas, algumas informaes. Dentre elas: Quando virdes acontecer estas coisas, sabei que a vinda do Filho do homem est perto, s portas. Entre outras: Aparecero coisas espantosas no cu e sinais extraordinrios. Haver coisa mais espantosa que os avies cruzando o cu e os satlites artificiais com as suas interligaes extraordinrias? Ns no nos espantamos porque elas fazem parte do nosso quotidiano, ns as vulgarizamos. J disse o sbio: No h nada de extraordinrio de momento, que pouco a pouco no se veja com menor admirao. Ns nos estamos tornando pesades, essas coisas espantosas e sinais extraordinrios que vimos no cu, no nos tilintam, no nos fazem vibrar, no nos entusiasmam. Pertencemos a uma gerao, que no se abala facilmente e que no mais se ruboriza, pela conseqente soturnidade. A propsito, na penltima visita que o Papa nos fez, uma irmzinha do naipe progressista, em ardilosa arenga dirigida a Sua Santidade, foi por este, paternalmente corrigida e ela nem desmaiou, pior, sequer encabulou. Por muito menos, Ananias e Safira, surpreendidos por So Pedro na trama que haviam elaborado, morreram. Hoje, ningum mais morre de vergonha, ningum mais encabula, simplesmente, porque se perdeu a vergonha.

 

                                                L se vo os tempos, em que a sambista Dalva de Oliveira cantava: A vergonha, foi a maior herana que o meu pai me deixou. Felizmente, a vergonha no se assemelha ao elo perdido que uma hiptese e no tem condio de ser reencontrado. Assim, como a vergonha foi realmente perdida, pode ser achada. Pode ser, no! Tem de se readquirir a vergonha, a qualquer preo. A comear por setores desabusados do clero brasileiro, que esto inibidos de deixarem a batina, pois, jogaram-nas para pasto das traas. No Brasil, no se sabe mais quem padre, quem freira, no h nada que os identifique exteriormente. Sequer um crucifixo. E a parte ttrica, que perderam a identidade no porque tivessem vergonha, mas, por excesso de respeito humano, ou seja, submisso servil opinio vulgarizada. H excees, que confirmam a regra. Mormente as contemplativas, que so o tesouro da Igreja conforme Sua Santidade o Papa Joo Paulo II.

 

                                                A nossa preocupao maior deve ser com o final dos nossos dias e no com o final dos tempos, coisa que no ocorrer, nos afirma So Paulo, antes da geral e macia converso dos judeus ao cristianismo. Por ltimo, quando o homem acabar, ento estar no comeo.  

 

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